Saiba quem ouvir dentro do FED

Na última quarta-feira os diretores do Comitê de Política Monetária do FED (Federal Reserve) decidiram manter a política monetária do Banco Central norte-americano. A decisão acabou frustrando muitos investidores/operadores que acreditaram nas informações distorcidas fornecidas pelos principais veículos de comunicação do mercado financeiro.

As duas últimas reuniões do FED foram marcadas por expectativas de redução no programa de estímulo monetário. Mas, como todos nós já sabemos, não aconteceu nada. Em nenhum momento os principais documentos de comunicação da autoridade monetária com o mercado indicaram esta possibilidade. A expectativa só foi criada porque a mídia destacou depoimentos de membros do Comitê contrários à política monetária do Banco Central.

Boa parte destes membros não possui sequer poder de voto nas decisões do FED. Fazem parte de um pequeno (e, porque não, insignificante) grupo radicalmente contra aos programas de estímulos monetários do Banco Central (tanto do Quantitative Easing, quanto da Operação Twist). Apenas um membro votou contra a política monetária na última reunião do Comitê.

Os documentos do FED revelam que a redução do volume de compras do programa de estímulo monetário está condicionada à melhora da economia norte-americana. Caso as projeções econômicas do FED sejam confirmadas (taxa de desemprego, taxa de inflação e taxa de crescimento), a redução poderá ocorrer no final deste ano. Esta é a linguagem adotada pela ampla maioria dos membros que fazem parte do Comitê. Linguagem que parece não estar chegando ao mercado, mas está bastante clara nos documentos e comunicados da instituição.

As informações que aparecem nas capas dos jornais continuam distorcidas. A mídia não está retransmitindo a mensagem do FED e prefere criar sensacionalismo ao destacar discursos e opiniões da minoria contrária à política monetária do Banco Central. São informações de baixo valor agregado ao investidor e responsáveis por criar frustrações.

O presidente do FED de Atlanta, Dennis Lockhart, disse hoje que o Banco Central pode começar a reduzir o ritmo de seu estímulo monetário já em setembro. Qual o grau de importância dessa declaração? Zero. A não ser que Lockhart realize um protesto formal (uma greve de fome, por exemplo) para que a grande maioria de seus colegas diretores do FED (hoje contrários à sua posição) mudem de opinião e votem contra os programas de estímulos monetários. Lockhart não tem sequer poder de voto no FED.

Devemos frisar as declarações dos diretores influentes e grandes responsáveis pela formação da política monetária do Banco Central. São eles: Ben Bernanke, William Dudley, James Bullard, Elizabeth Duke, Jerome Powell, Sarah Raskin, Eric Rosengren, Jeremy Stein, Daniel Tarullo e Janet Yellen. Se estes diretores falarem que o FED vai reduzir o programa de estímulo monetário no mês de setembro, acredite. Caso contrário a informação que continua válida é a mesma de sempre:

“A redução do volume de compras do programa de estímulo monetário está condicionada à melhora da economia norte-americana. Caso as projeções econômicas do FED sejam confirmadas (taxa de desemprego, taxa de inflação e taxa de crescimento), a redução poderá ocorrer no final deste ano.”

Opiniões divergentes sempre existiram dentro do FED. O Comitê de Política Monetária é formado por 7 diretores do banco com poder de voto e mais os 12 presidentes das filiais regionais do FED, dos quais 5 presidentes regionais tem poder de voto. Com um Comitê tão grande é normal existir 2 ou 3 membros contrários à opinião da maioria. Portanto, para entender a política monetária é necessário analisar o conteúdo das atas e comunicados, além de frisar os discursos e opiniões da maioria votante e não da minoria.

Entender a avaliação do mercado, influenciada por diversas variáveis, e saber o que realmente está acontecendo (ou “onde você está pisando”) facilita o processo de análise do investidor, amplia sua capacidade de visão/adaptação ao meio, provoca conforto psicológico em sua estratégia/posicionamento no mercado, minimiza transtornos provocados por frustrações de expectativas e, por fim, o mais importante, colabora para que este investidor assuma facilmente o erro quando falhar na sua avaliação/posição.

O índice Dow Jones fechou o pregão desta terça-feira em queda de 0,60%, confirmando topo de curtíssimo prazo formado na região dos 15.658 pontos. Caso a linha central de bollinger seja perdida no próximo pregão, o índice deverá retornar para a linha de suporte na região dos 15.3k.

No Brasil o índice Bovespa cedeu 2,09%, rompendo a zona de congestão de curtíssimo prazo com um candle de força relevante. O mercado mostrou que está vendido no curtíssimo prazo. Isso significa que as operações curtas devem ser abertas preferencialmente na ponta vendedora. Não há linhas de suporte relevante até a região dos 44.1k.

  

Ainda no mercado doméstico, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, voltou a declarar que o objetivo da autoridade monetária é entregar a inflação de 2013 abaixo do índice de 2012, o que serve de respaldo para as nossas expectativas com relação ao fechamento da Selic este ano, levantadas neste artigo.

Com relação ao movimento do dólar, Tombini disse que “a condução adequada da política monetária limitará a transmissão da desvalorização do câmbio para a inflação em um horizonte relevante.” Este trecho praticamente reforça a expectativa de manutenção do ritmo de apertomonetário, já que os estudos realizados pelo próprio Banco Central mostram que uma desvalorização de 20% do real frente ao dólar é capaz de provocar aumento extra de 1 ponto percentual no IPCA (índice oficial de inflação).