A reunião do Comitê de Política Monetária do FED (Federal Reserve – Banco Central norte-americano) terminou nesta quarta-feira confirmando o encerramento dos programas de estímulos monetários (Operação Twist e Quantitative Easing 3).
A decisão de política
monetária era amplamente esperada pelo mercado e não surpreendeu. Entretanto, o
comunicado emitido após a reunião de Comitê apresentou novidade relevante. Até
o início da reunião realizada nesta semana, a autoridade monetária
norte-americana avaliava que o mercado de trabalho operava em "significativa
ociosidade".
Esta avaliação mudou. Agora,
o Banco Central dos Estados Unidos considera que “uma
série de indicadores do mercado de trabalho sugere que a subutilização dos
recursos de trabalho está gradualmente diminuindo.” A mudança é importante,
pois o reconhecimento da melhora no mercado de trabalho é fator de decisão
fundamental para os diretores do Comitê autorizarem o início do processo de
aperto monetário no futuro próximo.
Além disso, a desaceleração do
crescimento na Europa não alterou a perspectiva para a política monetária nos
Estados Unidos. No comunicado, o FED destaca que “continua a ver suficiente vigor subjacente na economia mais ampla para
sustentar o progresso em curso em direção ao máximo emprego em um contexto de
estabilidade de preço”.
A autoridade monetária reforçou, também,
que a probabilidade da inflação ficar abaixo da meta diminuiu desde o começo do
ano. Com aceleração da inflação e manutenção do ritmo de melhora do mercado de
trabalho, a economia norte-americana segue fornecendo sinais de que o aperto
monetário deve começar em meados de 2015.
Por outro lado, a famosa expressão “tempo considerável”
(ou “horizonte relevante”), utilizada para caracterizar por quanto tempo o
Banco Central pretende esperar para elevar a taxa básica de juros após o fim
dos programas de estímulos monetários, foi mantida no comunicado emitido ao
mercado na tarde desta quarta-feira, o que reforça a manutenção da postura
cautelosa adotada desde março deste ano.
Mesmo
sinalizando ao mercado de que segue cauteloso, o Banco Central norte-americano
não está tão dovish (defensor de juros mais baixos) quanto anteriormente. O
novo comunicado está mais pesado. Mais hawkish (defensor de juros mais altos).
Prova disso está na votação. O único membro votante do Comitê que discordou do
teor do comunicado foi Narayana Kocherlakota,
presidente do FED Minneapolis, reconhecido por ter uma forte postura dovish.
No Brasil, os integrantes do Copom (Comitê
de Política Monetária do Banco Central) discutiam a estratégia de política
monetária a ser adotada no País no momento em que a decisão saiu nos Estados
Unidos. Possivelmente surpresos com uma postura mais hawkish do FED, os
integrantes do Banco Central brasileiro entenderam o recado e deram uma
resposta imediata.
A taxa básica de juros no Brasil subiu
0,25 ponto percentual, para 11,25% ao ano. A decisão surpreendeu o mercado e
pode provocar um choque de expectativas. O Banco Central do Brasil também está
mais hawkish. Existe uma lista de motivos para justificar a alta na taxa Selic,
dentre as quais pode-se destacar o novo movimento de aceleração da inflação e
disparada na taxa de câmbio.
Mas, tão importante quanto apertar as
condições monetárias para combater a inflação persistentemente elevada, dar uma
resposta imediata ao mercado pode prevenir novos choques na taxa de câmbio, possível
fruto de uma fuga de captais ou acentuação do atual movimento de aversão ao risco. O FED surpreendeu nesta quarta-feira, provocando aumento nos prêmios de
risco dos títulos da dívida soberana norte-americana. O Banco Central
brasileiro não pensou duas vezes, vai combater a inflação e a melhora nos
prêmios de risco norte-americanos. Um olho no IPCA e outro no FED, pelo menos deve
ser assim até arrumarem a casa.
Ao final da reunião, o Copom emitiu o
seguinte comunicado: "Para o Comitê, desde sua última reunião, entre outros
fatores, a intensificação dos ajustes de preços relativos na economia tornou o
balanço de riscos para a inflação menos favorável. À vista disso, o Comitê
considerou oportuno ajustar as condições monetárias de modo a garantir, a um
custo menor, a prevalência de um cenário mais benigno para a inflação em 2015 e
2016".
No mercado de capitais o índice Bovespa fechou o pregão desta
quarta-feira em queda de 2,45%, refletindo a decisão do FED. A queda de hoje
provoca novo distanciamento da média móvel simples de 200 períodos diária,
reforçando a zona de resistência na região.
Nos Estados Unidos o índice
Dow Jones fechou o pregão em leve baixa, mostrando um candle de indefinição
para os próximos dias.